Governo reduz exigência para vender Confins
Medo de fracasso faz governo mudar Confins
Medo de fiasco levou o Planalto a mudar regras dos leilões que entregarão à iniciativa privada a administração dos aeroportos do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte. No caso do terminal mineiro, o lance inicial da privatização foi reduzido de R$ 1,56 bilhão para R$ 994 milhões
Programa de concessões de infraestrutura vem sendo marcado por mudanças constantes de regras, devido ao desconhecimento dos responsáveis pelo modelo, à visão ideológica e à disputa de poder. Exigências para aeroporto mineiro diminuem
A  sucessão de atropelos e de fiascos que vem marcando o programa de   concessões de infraestrutura não deixa mais dúvidas sobre a dificuldade   do governo de Dilma Rousseff de levar adiante um plano que é  considerado  essencial para tirar a economia da estagnação e ampliar a   competitividade do país. O mais novo exemplo de um modelo marcado pela   ideologia e por disputas de poder veio ontem, com o anúncio de novas   mudanças nas regras para a privatização do aeroporto de Confins, em   Minas Gerais. Antes, exigia-se que o futuro operador privado tivesse   experiência na administração de terminais com movimento de 35 milhões de   passageiros por ano. Agora, o número baixou para 20 milhões. No caso  do  Galeão, no Rio de Janeiro, a exigência foi mantida. Mas não é só: a   licitação de ambos, prevista para 31 de outubro, foi remarcada para 22   de novembro. 
Segundo o ministro da Secretaria de Aviação Civil  (SAC), Wellington  Moreira Franco, os ajustes foram feitos para atender  um questionamento  do Tribunal de Contas da União (TCU). No último dia  11, o órgão de  controle aprovou, com ressalvas, os estudos técnicos  usados pelo  governo para montar os editais de concessão dos aeroportos.  Em agosto, o  Palácio do Planalto já tinha mudado os valor dos lances  mínimos. No  Galeão, subiu de R$ 4,65 bilhões para R$ 4,73 bilhões e, em  Confins,  recuou de R$ 1,56 bilhão para R$ 994 milhões. 
Ansiedade
No  entender dos analistas, os constantes recuos, retificações e  adiamentos  nos programas de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos  decorrem do  desconhecimento técnico sobre as áreas concedidas, dos  ranços  ideológicos e da ansiedade para inaugurar canteiros de obras com  vista  às eleições de 2014. Em meio a tudo isso, ainda prosperam  desperdício de  recursos públicos e disputas entre autoridades com um  único objetivo:  chamar a atenção de Dilma e poder difundir na Esplanada  que têm trânsito  livre com a chefe. 
“Esse colapso gerencial custa muito caro ao  país”, disse Renato  Fragelli, professor da Fundação Getulio Vargas  (FGV-RJ). Para ele, a  crescente desconfiança gerada pela falta de  clareza nas propostas das  concessões, pelos erros de projeções oficiais e  pelas constantes  revisões de editais, uma vez que o governo insiste em  tabelar o lucro  dos investidores, é a causa do insucesso do programa de  Dilma. “O  governo deveria tratar o capital privado como um sócio  desejado, mas  faz tudo errado e cerca o investidor de incertezas”,  resumiu. No  entender dele “está evidente a contrariedade com que a  presidente Dilma  e a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) estão  conduzindo as  concessões, forçadas pela falta de recursos no Orçamento  para  investir”.
O ápice das contradições do governo foi o duelo  entre Bernardo  Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e  Logística (EPL),  criada para coordenar o setor de infraestrutura de  transportes no país,  e Arno Agustin, secretário do Tesouro. Hoje, a  estatal está relegada  ao ostracismo, apesar de manter uma estrutura com  mais de 150  funcionários para não fazer quase nada.
Na avaliação  de Fragelli, os equívocos do modelo ficaram evidentes na  semana passada  com a falta de candidatos à BR 262 (ES/MG) e a vitória  de um grupo  desconhecido no leilão da BR 050 (GO/MG). Segundo ele, há o  risco de o  leilão do Campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Campos  (RJ), ir pelo  mesmo caminho. “Temo pela vitória de um consórcio  fictício, com o BNDES  (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e  Social) por trás”,  afirmou, destacando que os estrangeiros temem pagar  adiantado R$ 11,5  bilhões para explorar o petróleo com registros  incertos, tendo do lado a  sócia Petrobras e a fiscal PetroSal. O  ministro Edison Lobão (Minas e  Energia) avisou ontem que o governo não  fará aportes na estatal para  competir por Libra.
Raul Velloso, especialista em gestão pública,  acredita que as  concessões empacaram por causa do “viés político  equivocado” e da  “incompetência nos níveis técnicos, nos quais há gente  muito  despreparada”. O primeiro obstáculo, acredita, é a busca exagerada  por  tarifas baixas. “Mesmo que algumas pessoas no governo não pensem  dessa  maneira, as que pensam predominam. As outras ficam quietas para  manter o  emprego”, destacou.
Corrupção
O  economista lamenta que etapas importantes estejam sendo queimadas e   acredita que a EPL levará tempo para formar um corpo técnico capaz de   eliminar empresas sem condições de operar com as concessões. Só para   elaborar o projeto básico do Trem de Alta Velocidade (TAV), que acabou   sendo adiado para 2014, já foram gastos R$ 1 bilhão. “As grandes   empresas têm desistido dos leilões porque o setor privado não entra em   um negócio em que não possa ter lucro. Quem entra são os novatos, por   desconhecimento ou porque esperam contar com a benevolência do governo   mais tarde, caso não cumpram os prazos dos investimentos”, afirmou   Velloso. 
 Ontem, além das mudanças na concessão de Confins, o  governo confirmou  que readequará a estatal Valec, sinônimo de corrupção,  para atuar no  novo modelo de concessão de ferrovias. A ideia é realizar  pelo menos um  leilão desse modal em 2013, afirmou o ministro dos  Transportes, César  Borges. Segundo ele, nos próximos dias, será  encaminhada ao Congresso,  via medida provisória ou projeto de lei,  proposta de transformação da  estatal na Empresa Brasileira de Ferrovias  (EBF), que comprará 100% da  capacidade de tráfego das ferrovias a serem  licitadas. Nesse sentido,  já foram injetados R$ 15 bilhões no caixa da  Valec. Segundo analistas, a  mudança visa também permitir à empresa  contratar serviços para  construir linhas não absorvidas pela iniciativa  privada.
                            
