Trabalho, e mais nada, é rotina de sete em cada dez pessoas
Pesquisa mostra que 45% não "se desligam" quando vão embora
Quase a metade dos brasileiros (45,4%) não se desliga totalmente do  trabalho nas horas vagas e 70% não conseguem ter uma atividade regular,  como ir à academia, fora do expediente. As conclusões são da pesquisa  Trabalho e Tempo Livre, que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada  (Ipea) divulgou ontem. 
O médico Bruno Scheffer, diretor do corpo  clínico do Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida (Ibrra), se  encaixa perfeitamente na estatística. Há nove anos sem férias, ele  trabalha 14 horas por dia de segunda a sexta-feira e também dá  expediente nos fins de semana. 
Os dias que seriam de férias, ele  emprega em cursos e congressos relacionados à profissão. "É a síndrome  do escravo. Eu só sou feliz trabalhando", afirma. Scheffer diz que, em  função da rotina pesada de trabalho, não tem tempo de praticar esportes  ou fazer uma atividade de lazer. "Já tive muitos hobbies, mas o que eu  gosto mesmo é de trabalhar", diz. 
A arquiteta e proprietária do  café Santa Sophia, Magda Dias Leite, já chegou a trabalhar mais de 12  horas por dia, mas, nos últimos dois anos, resolveu diminuir o ritmo.  "Agora, eu quero a hora do recreio", diz ela, que reduziu a jornada pela  metade. "Ainda trabalho bastante, mas resolvi que eu merecia um pouco  mais de atenção da minha parte. Faço ginástica, cuido da pele, cozinho  quando eu quero, cuido de plantas, leio muito, viajo muito", afirma. 
O  que Magda já conseguiu é o sonho de boa parte dos trabalhadores.  Segundo o Ipea, caso a jornada de trabalho fosse reduzida por lei, 63,8%  aproveitariam as horas vagas para cuidar da casa e da família, estudar,  descansar, praticar esportes ou fazer atividades recreativas. Já para  36,2%, essa eventual redução não alteraria seu estilo de vida. 
Contraditório.  Entre 1992 e 2009, a jornada média do brasileiro diminuiu. De acordo  com o Ipea, há 20 anos, 41,7% das pessoas trabalhavam mais do que as 44  horas semanais previstas na Constituição. Em 2009, esse percentual havia  caído para 31,8%. Apesar disso, 37,7% dos brasileiros dizem que o tempo  livre vem diminuindo. Segundo o estudo, as horas que deveriam ser  livres são preenchidas por atividades relacionadas ao trabalho  desenvolvidas em casa e com o deslocamento.
Os  trabalhadores com menos de 38 anos são 1,4 vez mais resistentes ao uso  das horas vagas no trabalho do que os que têm mais de 39 anos. Segundo a  pesquisa divulgada ontem pelo Ipea, as reações mais comuns são revolta  ou tristeza por não sentir prazer com o trabalho. De acordo com o  estudo, 21,5% dos brasileiros querem mudar para um emprego que exija  menos horas de dedicação. 
O professor do curso de administração  de recursos humanos da faculdade IBS/FGV Alexandre Rolim diz que, quando  a pressão no trabalho fica muito grande, muitas vezes, é preciso mudar  de emprego. "Tem hora que é preciso dar um basta. Eu mesmo já passei por  isso", conta. 
Ele diz que, muitas vezes, a pessoa tem um tempo  livre, mas está tão esgotada pelo trabalho que não consegue desenvolver  outra atividade. Rolim diz que, depois da mudança de emprego, o  profissional tende a ter uma postura mais equilibrada. (APP)
                            
